A linguagem modifica a forma como você pensa? Esta pergunta vem ocupando a mente de diversos estudiosos, escritores e acadêmicos nas últimas décadas. George Orwell reconheceu isso, criando o conceito de “Novalíngua” que ilustra como, em um cenário de caos ou pesadelo social, a linguagem poderia ser usada como um possível instrumento de controle.
Para que possamos debater e manter a capacidade de pensar, refletir e discutir sobre as Migrações Internacionais, é primordial que jornalistas, criadores de conteúdo, sociedade civil e especialmente acadêmicos e estudiosos do tema, estejam atentos aos vocabulários que podem desumanizar as pessoas que se deslocam.
O uso de figuras de linguagem em nossa sociedade, pode estar profundamente enraizado na nossa língua; e por vezes não notamos que estes termos impactam vidas. Pois, os termos linguísticos e as palavras, quando utilizadas em determinados contextos, podem representar ideias fixas, formas de ver, analisar e encarar o mundo ou algum acontecimento social. Diante disso, ao se referir às pessoas que se deslocam e às questões que as envolvem, precisamos estar atentos ao uso da linguagem e de termos que prejudicam o diálogo, e que por vezes, estimulam estereótipos nos estudos migratórios.
Por isso, compartilhamos aqui alguns termos que devemos abolir quando o assunto for as Migrações. Você já usou algum desses termos? Há outra palavra que você considera problemática quando utilizada no contexto das Migrações? Deixa o seu comentário!
Migrantes clandestinos ou ilegais
O uso da expressão “migrante ilegal” ou “clandestino” para se referir às pessoas sem documentos ou em situação irregular no país; se trata de uma “criminalização da migração”. No Brasil, por exemplo, a migração não documentada é uma infração administrativa e não penal. Por isso, nenhuma pessoa pode ser considerada ilegal ou clandestina, outras questões muito mais importantes, como – o que levou a pessoa a migrar? Que condições enfrentou para chegar aqui? Foi trazida por “coiotes”? Trata-se de uma vítima de tráfico humano?; devem ser prioritárias.
Estrangeiro
A Lei de Migração foi instituída no Brasil em 2017, revogando o Estatuto do Estrangeiro, normativa criada na época da ditadura militar (1964-1985). Enquanto o termo “estrangeiro”, utilizado no Estatuto do Estrangeiro de 1980, chama atenção para a presença de pessoas como alheias ou “inimigas” ao território nacional, a palavra “migrante”, no contexto da Lei Migração de 2017, indica a pessoa que se desloca como um sujeito de direito, e não um inimigo nacional.
Crise de refugiados
A palavra “crise” traz consigo a ideia de algo perigoso, tenso ou uma situação repentina. Atrelar esta palavra às pessoas migrantes contribui para o estigma do migrante como uma pessoa perigosa, capaz de trazer mais aspectos negativos do que positivos para as sociedades que as acolhem. Apesar das dificuldades que envolvem o deslocamento humano, é um erro retratar a situação como uma crise global incontrolável. É possível, com vontade política e melhores respostas, buscar soluções capazes de trazer dignidade para a pessoa migrante
Onda de refugiados
Uma “onda” é uma perturbação que se propaga através do espaço, por isso, incluir os movimentos de deslocamento forçado como uma onda, pode alimentar o medo de que os migrantes estejam trazendo crime e terror para o novo país. A recente retórica anti-imigrante de políticos e da mídia, acrescenta fervor a esse estigma; particularmente para os migrantes da América Latina, descritos como “estupradores” e “assassinos violentos”, e os migrantes do Oriente Médio como “terroristas”.
Invasão de migrantes
Se referir aos migrantes como uma “invasão”, contribui para a construção de uma falsa e xenofóbica narrativa da pessoa migrante como um ser violento, perigoso ou hostil. Para além das dificuldades que já involvem a travessia de migrantes, estas pessoas ainda vivenciam o racismo, a discriminação e a hostilidade que esta terminologia contribui para o discurso de “imigrantes indesejáveis ou indigestos” no novo país.
Fique atento e compartilhe esse conteúdo para que mais pessoas se sensibilizem sobre isso.
*Texto escrito por Camila Santos Barros Moura, fundadora da comunidade virtual Migrações em Debate
Foto da Capa: Business Standard
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