Não ter mais vontade de brincar com outras crianças. Parar de falar e de comer. E em seguida, tornar-se uma criança imóvel e indiferente ao mundo ao seu redor. Talvez estes sintomas possam ser indicativos claros de que algo não anda bem com determinada criança; porém, quando estas são pessoas migrantes e refugiadas; essas ocorrências podem ter um indício: a “Síndrome da Resignação”.
Segundo Pressly (2017), a Síndrome da Resignação foi relatada publicamente pela primeira vez na Suécia, nos anos 1990. Entretanto, apenas a partir de 2003, mais casos foram registrados em “crianças migrantes apáticas”, deitadas em uma cama, com sinais vitais. Testemunhar situações horríveis antes, durante e após a travessia, como: ver a sua família sem proteção, fugir sem os seus pertences deixando tudo para trás, permanecer em um centro de detenção para migrantes, sofrer medo e ameaças; são algumas das circunstâncias aterrorizantes que uma criança migrante pode vivenciar. E para o corpo e mente humanas, viver estes traumas sendo tão jovem, podem certamente desencadear em doenças físicas e mentais.
Para o médico, Lars Dagson (BBC, 2017), questões relacionadas ao futuro, a incerteza por não saber como será a integração no país de acolhida e ao medo de ter que voltar para o seu país de origem, fazem com que essas crianças migrantes entrem numa espécie de “modo de segurança”, desligando-se do mundo até que as coisas porventura venham a melhorar. Por isso, Dagson acredita que o principal fator que pode levar a uma recuperação das crianças com Síndrome da Resignação é o senso de segurança. Logo, ao experimentar a sensação de que “ninguém tem como cuidar de mim”, pode fazer com que as crianças migrantes sintam-se desprotegidas, inseguras e ameaçadas.
Sentir-se segura e vivenciar a proteção familiar e comunitária são fatores essenciais para um bom desenvolvimento de qualquer criança, independente do seu status migratório. Pois, mais do que fortalecer e reconstruir as relações familiares das pessoas migrantes, é preciso um conjunto de iniciativas governamentais e políticas que confiram segurança às crianças migrantes para que o desejo de viver por si próprias seja plenamente restaurado.
*Texto escrito por Camila Santos Barros Moura, fundadora da comunidade virtual Migrações em Debate
Foto da Capa: Catraca Livre
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