Nesta última semana houve uma grande comoção da mídia em torno do caso Djokovic. Como poderia o maior tenista do mundo ter a sua entrada negada na fronteira australiana, e assim, ser levado para um centro de detenção imigratória? O motivo? Djokovic não conseguiu provar que cumpria os requisitos sanitários para a entrada na Austrália, que exigem que as pessoas que cheguem ao país estejam vacinadas.

Não vacinado, o tenista passou quatro noites detido em um suposto “hotel” que provavelmente passaria despercebido pela mídia, caso não tivesse recebido este ilustre hóspede. Porém, desde 2020, defensores dos direitos humanos ficam do lado de fora do antigo hotel todos os dias, tentando desesperadamente chamar a atenção para a situação dos mais de 30 homens que estão presos lá dentro. O motivo? Estas pessoas fugiram de seus países por fundados temor de perseguição, mas com a rígida política migratória australiana, não conseguiram ser reconhecidos como refugiados e estão detidas.

Manifestantes protestam pela liberação dos 30 refugiados que estão detidos no Park Hotel, um centro de detenção na Austrália. Foto: The Guardian

Com toda a atenção da mídia, Medhi teve esperança de que finalmente as pessoas pudessem enxergar a crueldade do sistema migratório. Desde que chegou de barco a Austrália aos 16 anos, ele celebrou recentemente o seu aniversário de 24 anos dentro do mesmo centro de detenção. E apesar do Direito Internacional Migratório assegurar que a detenção destas pessoas deve ser usada apenas como uma medida para casos excepcionais; e que crianças migrantes não devem ser colocadas em detenção; na prática não é isso o que ocorre. Desde julho de 2013, a Austrália já transferiu à força mais de 3.000 pessoas requerentes de asilo para campos fora do seu território na Papua Nova Guiné e em Nauru.

Os relatos são assustadores. Há casos de crianças em acampamentos de detenção que pararam de falar e queriam acabar com as suas vidas; sem ar fresco em seus quartos, muitos migrantes nunca são chamados pelo nome, apenas como “detido” ou pelo seu número. O que o dinheiro e o poder vão continuar a fazer diante de casos como o de Djokovic? O tratamento desumano para com os refugiados não pode continuar a ser visto como uma política.

Enquanto Djokovic pode agora estar livre, milhares de outros não estão.

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Foto da capa: ACB

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